Lisboa Reabilitada

 

Nuno de Figueiredo

7-Mar-2013

 

 

Lisboa vista do ar é de uma alvura imponente, salpicada de manchas verdes, impressionando qualquer visitante. Como capital europeia, o seu conjunto edificado nada fica a dever às suas congéneres, antes pelo contrário: o equilíbrio dos arruamentos, das construções, praças, jardins e a diversidade de monumentos que a cidade encerra, impressiona positivamente.

 

A melhor forma de captar o mistério de Lisboa é fazer uma viagem de carro elétrico. Sugere-se a carreira 28, que vai do Martim Moniz aos Prazeres, passando pelo bairro da Graça e Castelo, descendo depois a Alfama e à Baixa para seguidamente trepar ao Chiado, Bairro Alto e São Bento, aí começando a subida até à impressionante Basílica da Estrela e, finalmente, Campo de Ourique e o monumental cemitério dos Prazeres.

 

Cidade abençoada

 

Quem não conhecer Lisboa e olhar apenas para os prédios em mau estado, pode pensar que é uma cidade assombrada. Puro engano, Lisboa é sim uma cidade abençoada e onde é agradável viver.

 

No ranking da segurança europeia, é das cidades mais seguras e encontra-se no topo de todos os índices de qualidade de vida urbana em: cobertura escolar e hospitalar, hotéis, restaurantes, locais de diversão, meios de transporte, com destaque para o Metropolitano, um equipamento com mais de 50 anos, que nunca se degradou, dispondo atualmente de 4 linhas, que ligam ao aeroporto da Portela e a todas as gares de caminho-de-ferro, bem como aos cais para as travessias fluviais.

 

Depois do terramoto

 

O urbanismo do centro histórico de Lisboa, como o conhecemos hoje, tem apenas 250 anos. Com efeito, em 1 de novembro de 1755 um violento sismo atingiu Lisboa. Ao primeiro abalo, sentido entre as 9 e as 10 horas da manhã, outros se seguiram fazendo ruir cerca de dez mil edifícios, metade dos existentes. Por ação do maremoto as águas do Tejo invadiram a cidade e, em conjunto com a eclosão de vários incêndios, completou-se o quadro de tragédia a que Lisboa ficou reduzida. Calcula-se entre 6.000 e 8.000 o número de mortos.

 

As destruições atingiram sobretudo o centro da cidade tendo sido poupados a maioria dos bairros circundantes.

 

No meio das ruínas, onde permaneceu dias seguidos ordenando as necessárias providências, ficou célebre a frase do Marquês de Pombal: “enterrar os mortos e tratar dos vivos”. A catástrofe deu-lhe a oportunidade de mostrar o seu excecional carácter, tendo dado ordens para dispensar trâmites processuais no julgamento de ladrões, que logo se abateram sobre as ruínas à procura de peças de valor. Imediatamente a seguir pôs-se a questão da reconstrução da capital. Os proprietários das casas queriam reconstruí-las, mas uma lei proibiu-lhes que fizessem obras enquanto não fosse publicado o plano geral. Tudo o que estava a ser feito foi arrasado e os donos obrigados a pagarem as despesas da demolição.

 

Uma cidade planeada

 

Os donos dos terrenos onde tinham estado os velhos prédios eram obrigados a construir ali em conformidade com o projeto. Quem o não fizesse durante cinco anos perdia o direito a construir e os terrenos eram vendidos a quem os pudesse comprar e construir. Em 1763 já havia muitas casas feitas mas estavam devolutas porque não havia quem as quisesse habitar, os lisboetas tinham-se entretanto habituado a viver em barracas de madeira. Mas uma nova lei veio ordenar a demolição de todas as barracas, com o fundamento de que tinham sido construídas no período em que a construção estava proibida…

 

O plano da cidade nova tem data de 12 de Junho de 1758 e foi desenhado e dirigido por arquitetos portugueses: Eugénio dos Santos, Manuel da Maia e Carlos Mardel. A cidade nova refletia a conceção que o estadista tinha do Estado: planta geométrica e retílinea, alçados iguais para todos os edifícios, ausência de palácios ou de qualquer sinal exterior que pudesse sugerir a nobreza do proprietário.

 

Na praça principal reúnem-se as forças que para Pombal deviam formar o País: nos andares nobres as secretarias de Estado, por baixo delas, a servir-lhe de suporte, as lojas do comércio, daí o nome que passou de Terreiro do Paço para Praça do Comércio. O Paço não mais voltou ao local e em seu lugar, presidindo à imensa parada, ficou a estátua do rei cujo cavalo avança esmagando víboras que simbolizam a reação.

 

A recuperação do edificado

 

A construção original dos edifícios pombalinos era de excelente qualidade para a época, mostrando ser uma obra de engenharia vanguardista. Mas as estruturas pombalinas têm sofrido, ao longo dos anos, inúmeras transformações que resultaram na diminuição da sua solidez inicial, com efeitos negativos na sua capacidade de resistir a tremores de terra. A remoção de paredes dos edifícios, o aumento da carga e a introdução do betão, veio transformar completamente os sistemas estruturais iniciais.

 

Intervenções desajustadas, falta de conhecimento histórico e técnico podem colocar em risco este conjunto monumental da Baixa Pombalina, já proposto pela Câmara Municipal à UNESCO, como Património Mundial.

 

FIM

 

 

  
 
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