Freguesias - As grandes vão “comer” as pequenas João Cabral A ideia é partir a espinha dorsal da organização administrativa nacional, triturando os seus elos mais fracos que serão engolidos e descaracterizados no bojo das maiores unidades territoriais. Se em ambiente urbano, com populações sem personalidade própria e sentido de pertença—a área metropolitana de Lisboa, p. ex. está prenhe de estrangeiros e pessoas isoladas, às vezes o morador do lado direito não conhece o do lado esquerdo--esta reforma poderá ser encarada de ânimo leve, no ambiente rural e em vilas e cidades de menor dimensão, não vai ser fácil desmembrar o que tanto está arreigado nas populações. Como na quase milenar organização do país, em que a cruz andou sempre ao lado da espada e do arado, a cada junta de freguesia corresponde sempre uma paróquia e a sua própria igreja, a ir avante esta redução de freguesias, ou se assiste ao também encerramento de igrejas ou à manutenção de paróquias sem a respetiva freguesia. Sabe-se que a despesa direta com as freguesias é relativamente reduzida (0,1% da despesa pública), estando por provar que esta reforma vá poupar dinheiro. Segundo o governo, pelo menos 1500 freguesias (35%) das 4260 existentes serão extintas, mas a “troika” impõe aos portugueses um corte ainda mais drástico: a extinção de 1800 freguesias (42% do total). Paulo Ferreira, presidente da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) já declarou que “não aceitamos que esta decisão seja imposta, queremos que seja discutida localmente”. Representantes do poder local reuniram-se em Portimão, no congresso nacional, e decidiram não baixar os braços. A ANAFRE não defende a extinção ou agregação de nenhuma das freguesias, a não ser que, por sua iniciativa, seja manifestada essa vontade. As freguesias do distrito do Porto também já se manifestaram contra a reforma da administração local e o “Movimento Freguesias Sempre” aprovou uma moção na qual se opõem “terminantemente” à reforma que “vai fazer reviver pequenas e antigas rivalidades locais e gerar instabilidade territorial a juntar à instabilidade social que já se vive”. |